Avidya
(Ignorância) e Sathya (Verdade)
É essencial
perceber e abraçar o paradoxo, de que ninguém pode fazer a jornada por você.
Todos nós estamos nesta mesma jornada.
Todos compartilhamos da mesma dor , dos mesmos conflitos, medos e desilusões.
Existe no Talmud (texto central do judaísmo rabínico e que se segue após o
Torah) uma história em que um Rabino perguntou a seus estudos como se sabe que
o primeiro momento da Alvorada chegou. Após um prolongado silêncio, um aluno
respondeu “é o momento em que os primeiros tons de claridade no céu nos
permitem distinguir uma ovelha de um cachorro”. Apesar da resposta ter em si um
reflexo de filosofia, o Rabino disse que não. Outro aluno arriscou “é o momento
em que nós conseguimos diferenciar uma figueira e um pé-de-oliva”. Novamente o
Rabino deu um sinal negativo com a cabeça. Ninguém tinha mais respostas e o
Rabino circula em meio ao silêncio e finalmente diz: “Você reconhece o primeiro
momento da alvorada quando enxerga nos olhos de um ser humano e vê a sua
própria imagem.
Assim,
estamos nós, a família humana, mergulhados na escuridão esperando que em algum
dia surja a alvorada. Com muitas raras exceções encontramos pessoas com satyam
(sabedoria) enquanto a imensa maioria da humanidade vive em avidya
(ignorância). Quando falo em (avidya) ignorância, não há nenhuma conotação
pejorativa, pois o seu significado é “afastamento da sabedoria”.
Identificamo-nos com os nossos corpos, com a nossa mente, com as nossas crenças,
causas e tantas outras coisas mais. Nós erroneamente achamos que tudo que está
ao nosso redor é verdadeiro e palpável e não mais como simples manifestações de
objetos provenientes de uma única realidade essencial. Dennis Waite define bem
o porque da ignorância.
“A
ignorância (avidya) toma várias formas e frequentemente falhamos em reconhecer
a sua presença. Em nosso modelo mais racional, nós podemos constatar que as
nossas convicções são apenas provisórias até o momento em que, sujeitas a mais
revisões, ideias mais persuasivas surjam no caminho. Na maior parte das vezes,
entretanto, ficamos felizes de expressarmos as nossas ideias. Somente quando
alguém nos questiona de forma mais incisiva ou argumenta de formas contrárias àquilo
que cremos é que o nível de desconforto na forma de indignação ou ressentimento
pode nos fazer perceber que nós estamos apegados a nossas ideias ao custo de
excluir outras igualmente plausíveis.
Se nós não soubermos
de uma coisa mas soubermos que não sabemos, então, apesar de nossa ignorância,
estamos abertos à iluminação. Quando nós já temos opiniões formadas, então
relutamos em alterá-las. Se estivermos absolutamente convictos, nós estaremos
completamente a explicações alternativas ou a fatos contraditórios. Dessa
maneira, opiniões e crenças podem ser muito mais prejudiciais que a própria
ignorância. O verso 9 do Isha Upanishad diz que “aqueles que adorarem a
ignorância afundarão nas profundezas da ignorância, mas aqueles viciados em
conhecimento conhecerão profundezas ainda maiores”. Depreende-se destes versos
que a ignorância permite uma jornada até o conhecimento verdadeiro emergir. De
forma a superar a escuridão, faz-se
necessária a luz mas de forma a dispersar a ignorância, faz-se necessário conhecimento
(não o conhecimento escolástico mas o que nos permite discernir – buddhi).
Martius de
Oliveira
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