quinta-feira, 18 de outubro de 2012

024 - Advaita – Práticas e caminhos espirituais

Advaita – Práticas e caminhos espirituais ?

Estou lendo um livro que sei que terei de reler várias vezes. Estou lendo o capítulo "Spiritual Paths and Practices" do livro de Dennis Waite "Back to the Truth". É um capítulo longo e de difícil aprendizado pois procurando ser imparcial na exposição de Advaita, ele mostra diversas opiniões de diversas pessoas sobre se há uma prática espiritual ou experiências espirituais ou caminhos espirituais que nos levem a responder "Quem somos nós ?"

Sundance Burke explica claramente como a nossa mente está procurando por uma resposta que ela mesma é incapaz de entender : "Descobrir a sua verdadeira natureza não é como procurar pelos seus óculos quando você os perde. Seus óculos são um objeto e um objeto existe pontualmente em algum lugar no tempo e no espaço. Óculos podem ser achado. Que você é objetivamente não pode ser achado." A mente diz ele é a ferramenta errada para esse trabalho. Ela só é boa para encontrar coisas.

"Você honestamente não pode ser localizado. Você não pode alcançar a realização permanente identificando-se pessoalmente com um senso fugaz disso ou daquilo. Nem uma idéia ou sentimento realmente se encaixa em quem você é de fato. Tudo que você tentar vestir em você fica muito pequeno, muito apertado e muito fugaz. Você tanto pode ficar fazendo compras no shopping da mente, esperando encontrar a definição ou conceito que lhe caia perfeitamente, permanentemente quanto pode ficar pelado na verdade e simplesmente livre." (Simply Being Free by Sundance Burke)

"Não há caminho a seguir. Caminhos nos levam daqui para lá. Como pode haver um caminho que leve daqui para aqui ? Caminhos só nos conduzem para longe de casa. A casa é lucidez. A casa é paz. A casa é o céu. Todos os caminhos para o céu o conduzem para um inferno".

Enquanto o pensamento mais tradicional de Advaita argumenta que o ganho de conhecimento pode ajudar a remover a nossa ignorância e diminuir o domínio do ego, o pensamento mais moderno de Advaita, alega que não há ninguém que deva fazer coisa alguma, como se vê no pensamento expressado por Wei Wu Wei em "Ask the Awakened" e Stephen Wingate em "Reflections" :

"Não há caminho a seguir. Caminhos nos levam daqui para lá. Como pode haver um caminho que leve daqui para aqui ? Caminhos só nos conduzem para longe de casa. A casa é lucidez. A casa é paz. A casa é o céu. Todos os caminhos para o céu o conduzem para um inferno".

A razão segundo Waite para tantos caminhos diferentes é que nossas mentes, corpos e egos funcionam diferentemente. Todos os caminhos objetivam efetivamente remover o efeito de obscuridão do ego. A noção de que não há nada para praticar é relativamente moderna em compasso com o pensamento ocidental do "eu quero agora" e não ficar se preparando gastando uma vida inteira.

Jan Kersshot explica sua visão : "A crença em um caminho progressivo é bastante popular, mas para mim é completamente contraditória com o significado de liberação. A crença em um caminho espiritual que leva ao topo da montanha é baseada em dois conceitos errôneos – primeiro é a importância que você dá a parte pessoal da história (como eu posso alcançar o topo da montanha ?) e segundo é que você nutre ainda o conceito de um fenômeno temporal, sua esperança em um futuro melhor (Quando eu vou chegar lá ?). Enquanto você não entender que a libertação é não-pessoal e é atemporal, você parecerá com o burrinho correndo atrás da cenoura. A libertação verdadeira é impessoal, e portanto, você não pode declarar posse sobre ela como sendo a sua libertação. Você não possui a sua libertação. Além do mais, ela é atemporal, (não quero dizer aqui e agora, mas além do espaço-tempo) e assim isso não pode ser projetado no futuro. Mas caso você faça essa projeção no espaço-tempo, você estará se equivocando – embora também não exista nada de errado em fazer isso...."

Há ainda o fato de que muitas pessoas estão mais interessadas no caminho do que no objetivo. Elas gostam deste debate intelectual de caráter filosófico. Aja Thomas diz : "A situação é muito parecida com uma recente analogia que foi compartilhada comigo. Se você tivesse duas portas, uma porta para o céu e outra sobre uma palestra sobre o céu, você descobriria que uma vasta maioria de pessoas iriam se enfileirar para assistir a palestra. Frequentemente estamos mais interessados em saber sobre o divino, falar sobre o assunto e impressionar as pessoas com a profundidade de nosso conhecimento, do que simplesmente experimentar o divino.

Há ainda um comentário que gostaria de acrescentar de Satyananda que está em par com o nosso modo de vida : "Quem sou eu ? é questão que a mente não pode responder. E nesta impossibilidade ela pára. Vocês sabem, é como computadores – quando você põe algo que ele não é capaz de lidar ele dá um crash, pára. É o mesmo com a mente. Se a mente pergunta "Quem eu sou ?" ela não pode solucionar a questão porque tudo que ela conhece é mente e forma. A fonte da mente está completamente além do nome e forma, e assim não pode ser posta em uma caixa. Nesta impossibilidade, a mente simplesmente pára. O que permanece consciente é quem realmente você é. Esse é o caminho de casa, cortando através de tudo – paixão, medo, dor, o que quer que seja. O verdadeiro você é tudo que permanece."

Até a próxima.

Martius de Oliveira

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

023 - O Fruto e a Semente

"Muito de nossa ansiedade e tumulto interior existem porque vivemos imersos em uma cultura cujos valores nos desviam daquilo que realmente importa. Vivemos no centro desse conflito. Tentamos ser como uma manga madura intocada - por fora, linhas sinuosas perfeitas e perfumadas, por dentro um sumo doce e suculento e no cerne uma semente de esperança. Até que um dia.... o vento sopra forte e a fruta se esborracha no chão.

Infelizmente é assim que nós somos educados, para sermos frutas intocadas, olorosas, de belas cores, admiradas de baixo para cima, quando o segredo da renovação é sermos bicados pelos passarinhos, comidos pelos macacos e morcegos, e finalmente vazios de sumo e de aparência minguada, cairmos no chão da floresta quieta, rolarmos na terra dura e saber que daí em diante não seremos mais fruta mas árvore. O segredo da vida é saber que somos o fruto, a semente... e a árvore.

Martius de Oliveira

022 - Os três Gunas da Medicina Ayurvédica

Esse resumo foi preparado a partir da leitura do livro "Ayurveda and the Mind" do Dr. David Frawley.

Os três Gunas

A Natureza possui uma energia qualitativa através da qual nós podemos nos expandir em sabedoria ou contrair em ignorância. De acordo com o Ayurveda e o Yoga, a natureza consiste de três qualidades primárias, que determinam o ritmo de nosso crescimento espiritual. Eles são chamados de gunas em Sânscrito, cujo significado é "aquilo que adere", pois se os gunas forem utilizados sem discernimento eles podem nos manter cativos no mundo exterior. Os gunas são de três tipos :

1) Sattva – inteligência, confere equilíbrio

2) Rajas – energia, causa desequilíbrio

3) Tamas – substância, cria inércia

Os três gunas são as qualidades mais sutis da natureza subjacente à matéria, à vida e à mente. Elas são energias através dos quais não só a mente superficial funciona mas também as funções de consciência mais profundas. Elas são as forças do espírito que mantém os nossos carmas e desejos, nos propelindo de um ciclo de vida à outro.

Sattva

É a qualidade de inteligência, virtude e bondade, criando harmonia, equilíbrio e estabilidade. É leve e luminosa em sua natureza. Ela possui um movimento ascendente e interiorizante e faz a alma despertar. Sattva produz contentamento e alegria duradouros. Representa o princípio de clareza, amplitude, paz, e da força do amor que mantém unidas todas as coisas.

Rajas

É a qualidade da mudança, atividade e turbulência. Ela causa um desiquilíbrio que pode afetar uma harmonia já existente. Rajas é motivada em sua ação, sempre procurando um objetivo ou fim que lhe tragam poder. Ela possui um movimento externo causa a ação de busca auto-motivada que leva no final à fragmentação ou desintegração. Enquanto, a curto prazo, Rajas seja estimulante e proporcione prazer, devido à sua natureza desequilibrada ela rapidamente resulta em dor e sofrimento. É a força da paixão que causa conflito e tensão.

Tamas

É a qualidade de insipidez, escuridão, inércia e peso, encobrindo ou obstruindo em sua ação. Funciona como a força da gravidade que retarda as coisas e as mantêm em formas limitadas específicas. Ela possui um movimento descendente que causa desintegração e deterioração. Tamas traz consigo a ignorância, no sentido de idéias concebidas de modo impreciso e percepções perturbadas. É o princípio de materialidade ou inconsciência que faz a consciência tornar-se velada.

A Mente e Sattva

A mente ou consciência em geral, é naturalmente de domínio sáttvico. A consciência é chamada Sattva em Sânscrito. A menos que a mente esteja calma e transparente, nós não podemos perceber as coisas apropriadamente. Sattva cria a clareza através da qual nós percebemos a verdade das coisas, nos dando luz, concentração e devoção. Rajas e Tamas são fatores de desarmonia mental, causando agitação e desilusão. Isto por sua vez leva a concepções errôneas e percepções falsas. É da qualidade Rajásica que surge a falsa idéia de um mundo exterior real, o que nos leva a buscarmos alegria fora de nós mesmos e que nos afastemos de nossa paz interior. Rajas cria desejo, distorção, turbulência, e distúrbio emocional. Ele predomina no aspecto sensorial da mente porque os sentidos estão sempre se movendo e procurando vários objetos. Enquanto permanecermos na busca de contentamento sensorial, nós tombamos sob a instabilidade da qualidade Rajas.

Do Tamas provém a ignorância (desconhecimento) que vela a nossa verdadeira natureza e enfraquece o nosso poder de percepção. Através dele surge a idéia de um ego de um eu separado, através do qual nos sentimos sozinhos e isolados. Tamas prevalesce na consciência identificado com o corpo físico, que é denso e limitado. Na medida em que a nossa identidade e senso de bem-estar é primariamente físico, nós permanecemos no reino obscuro de Tamas.

Sattva é o equilíbrio de Rajas e Tamas, combinando a energia de Rajas com a estabilidade de Tamas. Aumentando a qualidade Sáttvica, ganhamos paz e harmonia, retornando à Natureza Primordial e ao Espírito Puro no qual está a nossa verdadeira liberação.

Entretanto, até mesmo o apego a Sattva, tal como o apego a uma virtude, pode prender a mente. Por essa razão, nós devemos nos esforçar por Sattva puro, que é desapegado da forma e de suas próprias qualidades. Quando o Sattva puro prevalece em nossa consciência, nós transcendemos o tempo e o espaço e descobrimos o nosso Eu eterno. A alma readquire sua pureza básica e se une com Deus. Quando fora de equilíbrio, os três gunas trazem o processo de evolução cósmica através do qual a alma evolui além dos reinos da natureza, experimentam nascimento e morte, alegria e tristeza em vários corpos. O movimento dos três gunas é contíguo ao da criação.

Sattva é um estado de equilíbro responsável pela saúde e pela cura. A saúde é mantida por um estilo de vida sáttvico, que consiste em viver em harmonia com a natureza e o nosso Eu interior, cultivando pureza, claridade e paz. Rajas e Tamas são fatores que causam doença. Rajas causa dor, agitação e dissipação de energia. Tamas causa estagnação, degeneração e por fim, a morte. Rajas e Tamas geralmente funcionam juntos. Rajas traz uma super-expressão de energia que eventualmente leva à exaustão, no qual Tamas prevalece.

Por exemplo, muita comida condimentada, álcool e excessos sexuais podem ser rajásicos e estimulantes num primeiro momento. Mas, com o tempo, eles eventualmente levam a pessoa a uma situação tamásica com fadiga e colapso de energia. Em um nível psicológico, muito Rajas leva a emoções turbulentas primeiramente, para depois haver predominância de Tamas com desinteresse e depressão.

Há muito, muito que se falar sobre Ayurveda. A medicina tradicional chinesa (MTC) também é rica em uma filosofia que nos remete à natureza e às múltiplas relações que os elementos guardam entre si. Aos poucos a gente vai aprendendo... Um abraço a todos!

 
Martius de Oliveira

terça-feira, 16 de outubro de 2012

021 - O que trazemos conosco

O que trazemos conosco

Eu estava hoje à tarde de pé, numa barca, pendurado na janela que nem uma criança que nunca viu mar, cruzando a Baía de Guanabara, sentindo um sol de primavera delicioso mergulhado num azul límpido, sentindo a brisa fria com resquício de inverno me arrepiar e trazendo um inconfundível cheiro de mar que traía pelo seu perfume, mas cuja cor verde-oliva não negava seu mau-trato.

Os barcos passavam aqui e ali, cruzando com o nosso e deixando uma esteira de espuma branca, ou quase branca, e dezenas de gaivotas mergulhando ávidas naquelas trilhas atrás de peixes que subiam a superfície junto com a corrente. Eu pensei que nós talvez fôssemos como os barcos, cada qual seguindo a sua direção, numa viagem que tinha destino certo e cuja trilha deixada se apagaria em meio às marés, ao vento e às correntes do tempo.

Pensei em Advaita e imaginei que as nossas impressões mentais ou sanskaras deviam ser como as cracas, as algas e a ferrugem aderidas ao casco e que nossas propensões e tendências, os vásanas, deveriam orientar o rumo de nossas vidas e o modo como as conduziríamos o barco até o seu destino.

Pensei no meu ego e no meu carma também. Imaginei que, mesmo restrito a uma Baía, eu poderia aportar em vários locais, tornar a viagem curta ou longa, escolher várias rotas, algumas aprazíveis outras nem tanto, navegar de vários modos. Bem, eu sei que terei que abandonar esse barco algum dia, pois eu não sou o barco. A única coisa de que me dei conta é de que havia muita faxina a fazer no casco, que deveria ser mais reponsável com o modo como me conduzia pela Baía. Mas por que limpar o costado se o barco não sou eu ?

Existe um mapa cartográfico que me ajuda a conduzi-lo mas olhando bem meu casco eu também via um mapa que dizia algo sobre como me conduzi na vida. Cada arranhão no casco teve uma causa, cada craca e ferrugem haviam sido deixadas lá por displicência minha.

Os anos de marinharia me ensinaram aos poucos a navegar com mais cuidado, a cuidar melhor do casco da embarcação, do convés e dos instrumentos de navegação, conhecer melhor a potência do motor e seus limites de manobrabilidade, conhecer melhor as regras de navegação e saber usá-las com sabedoria mas também seguir os instintos e os anos de experiência que nos avisam sutilmente das mudanças súbitas do tempo.

Abri o livro de Mark Neppo "The Book of Awakening", um conjunto de pequenos ensaios escritos para serem lidos aleatoriamente. Transcrevo aqui o que li no meio do mar.

"O que nós trazemos conosco"

Um rio não segura toda a água que por ele passa


Em nossa jornada pelo tempo, todos nós nos esforçamos constantemente com o que nós trazemos conosco e com o que nós devemos deixar para trás. É tão difícil jogar coisas fora mas se você não o fizer. você morre afogado sob o peso que você mesmo criou.

O rio é um bom modelo, Ele não possui a água que corre e ainda assim, mantém uma relação íntima com ela, pois é a força da água que modela o rio. É a mesma coisa com tudo que amamos. De fato, não há razão em se prender às coisas mais profundas que nos importa, pois elas já deram forma a nós.

O propósito do sentimento, então é liberar os sentimentos que dormem em nós. Algumas vezes livros e cartões e conchas ou flores secas fazem isso. Mas frequentemente, carregamos mais do que precisamos, raramente confiando que estes pequenos tesouros que guardamos estão vivos dentro de nós. Muitas vezes, o maior presente que podemos nos dar é pousar as nossas vidas abertas no chão como um rio que passa.

Mark Neppo

Martius de Oliveira

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

020 - Os tipos constitucionais Ayurvédicos

Os tipos constitucionais Ayuvédicos


O Ayurveda compreende uma ciência onde indivíduos com um determinado padrão constitucional caem em categorias específicas. Os três maiores tipos constitucionais existem de acordo com os três humores biológicos que correspondem às forças primordiais de nossa vida na matéria. Esses três grupos são chamados de Vata, Pitta e Kapha em sânscrito, e correspondem respectivamente aos três elementos Ar, Fogo e Água.

Vata – Ar

O humor biológico Vata corresponde literalmente "àquele que sopra" referindo-se ao vento. Ele contém um aspecto secundário do éter como sendo o campo por onde ele se move. Os espaços na cabeça, articulações e ossos servem como reservatórios de Vata.

Vata governa o movimento e é responsável por todos os impulsos voluntários e involuntários, sendo que ele trabalha principalmente sobre o cérebro e sistema nervoso. No sistema digestório ele se relaciona mais ao cólon onde os gases tendem a se acumular.


Os sentidos de toque e audição, o qual corresponde ao elementos ar e éter.

Vata está relacionado à agilidade, adaptabilidade e facilidade de ação. Seu poder nos anima e nos faz sentir cheios de entusiasmo e vitalidade.


Pitta – Fogo

O humor fogo é chamado Pitta em referência ao seu significado "aquilo que cozinha". Pitta contém um aspecto secundário da água pois os fluidos corporais tais como fluidos digestivos e sangue são armazenados quentes.

Pitta governa a transformação no corpo e mente tais como digestão e assimilação em todos os níveis indo do corpo até à mente. O fogo predomina no sistema digestivo, particularmente no intestino delgado e fígado, onde o fogo digestivo opera. Pitta também é encontrado no sangue e no sentido da visão que corresponde ao elemento fogo. Pitta é responsável por todo o calor e luz da percepção sensorial até o metabolismo celular. Mentalmente, Pitta governa a razão, a inteligência e a compreensão – a capacidade iluminadora da mente. Permite a mente perceber, julgar e discriminar. A raiva é a perturbação emocional mais comum deste elemento, que é inflamável, aquece, ajuda-nos a defendermo-nos de ataques externos.

Kapha – Água

O humor biológico água é chamado Kapha, literalmente "o que adere". Ele contém um aspecto secundário da terra como uma fronteira que contém, como a pele e as membranas mucosas. Kapha governa a forma e a substância, sendo responsável pelo peso, coesão e estabilidade. É a solução fluida, o oceano interno, nos quais outros dois humores se movimentam e constituem a substância principal do corpo. Ele proporciona lubrificação adequada nas articulações e eliminação de secreções, além de proteger nervos, mente e sentidos. Kapha predomina nos tecidos corporais e na parte superior do corpo – estômago, pulmões, e cabeça onde há acúmulo de muco. Ele se relaciona com os sentido de gustação e olfação, os quais correspondem à água e terra.

Kapha governa o sentimento, a emoção, além da capacidade da mente manter a forma, o que dá calma mental e estabilidade mas que ao mesmo tempo pode impedir crescimento e expansão. O desejo e o apego são os seus principais distúrbios, os apegos às coisas na mente, os quais podem sobrecarregar a psique.


Uma vez que tenhamos aprendido os principais tipos de humores, você observará que existem tipos constitucionais e físicos dos três tipos entre as pessoas, além das combinações de dois tipos quaisquer ou até mesmo dos três tipos. A gente vê isso num próximo texto. Até mais!

Martius de Oliveira

019 - Conhecimento e Sabedoria


Avidya (Ignorância) e Sathya (Verdade)

É essencial perceber e abraçar o paradoxo, de que ninguém pode fazer a jornada por você. Todos nós estamos  nesta mesma jornada. Todos compartilhamos da mesma dor , dos mesmos conflitos, medos e desilusões. Existe no Talmud (texto central do judaísmo rabínico e que se segue após o Torah) uma história em que um Rabino perguntou a seus estudos como se sabe que o primeiro momento da Alvorada chegou. Após um prolongado silêncio, um aluno respondeu “é o momento em que os primeiros tons de claridade no céu nos permitem distinguir uma ovelha de um cachorro”. Apesar da resposta ter em si um reflexo de filosofia, o Rabino disse que não. Outro aluno arriscou “é o momento em que nós conseguimos diferenciar uma figueira e um pé-de-oliva”. Novamente o Rabino deu um sinal negativo com a cabeça. Ninguém tinha mais respostas e o Rabino circula em meio ao silêncio e finalmente diz: “Você reconhece o primeiro momento da alvorada quando enxerga nos olhos de um ser humano e vê a sua própria imagem.

Assim, estamos nós, a família humana, mergulhados na escuridão esperando que em algum dia surja a alvorada. Com muitas raras exceções encontramos pessoas com satyam (sabedoria) enquanto a imensa maioria da humanidade vive em avidya (ignorância). Quando falo em (avidya) ignorância, não há nenhuma conotação pejorativa, pois o seu significado é “afastamento da sabedoria”. Identificamo-nos com os nossos corpos, com a nossa mente, com as nossas crenças, causas e tantas outras coisas mais. Nós erroneamente achamos que tudo que está ao nosso redor é verdadeiro e palpável e não mais como simples manifestações de objetos provenientes de uma única realidade essencial. Dennis Waite define bem o porque da ignorância.

“A ignorância (avidya) toma várias formas e frequentemente falhamos em reconhecer a sua presença. Em nosso modelo mais racional, nós podemos constatar que as nossas convicções são apenas provisórias até o momento em que, sujeitas a mais revisões, ideias mais persuasivas surjam no caminho. Na maior parte das vezes, entretanto, ficamos felizes de expressarmos as nossas ideias. Somente quando alguém nos questiona de forma mais incisiva ou argumenta de formas contrárias àquilo que cremos é que o nível de desconforto na forma de indignação ou ressentimento pode nos fazer perceber que nós estamos apegados a nossas ideias ao custo de excluir outras igualmente plausíveis.

Se nós não soubermos de uma coisa mas soubermos que não sabemos, então, apesar de nossa ignorância, estamos abertos à iluminação. Quando nós já temos opiniões formadas, então relutamos em alterá-las. Se estivermos absolutamente convictos, nós estaremos completamente a explicações alternativas ou a fatos contraditórios. Dessa maneira, opiniões e crenças podem ser muito mais prejudiciais que a própria ignorância. O verso 9 do Isha Upanishad diz que “aqueles que adorarem a ignorância afundarão nas profundezas da ignorância, mas aqueles viciados em conhecimento conhecerão profundezas ainda maiores”. Depreende-se destes versos que a ignorância permite uma jornada até o conhecimento verdadeiro emergir. De forma  a superar a escuridão, faz-se necessária a luz mas de forma a dispersar a ignorância, faz-se necessário conhecimento (não o conhecimento escolástico mas o que nos permite discernir – buddhi).

Martius de Oliveira  

sábado, 13 de outubro de 2012

018 - A vida no limite


A vida no limite

Você é aquilo que você busca (São Francisco de Assis)

Eu estou lendo o livro de Mark Nepo chamado “The book of awakening” e hoje encontrei um texto de sua autoria que me fez lembrar bastante sobre a última postagem sobre Ignorância e Conhecimento, aonde no final das contas não há o que buscar fora de si, e onde se fala no livro de Advaita, que o buscador e aquilo que se busca. Então decidi transcrever esta mensagem de Mark chamada “Vida no limite”.

“Quando eu me sinto sozinho, meu primeiro pensamento é de que você tenha a chave para me tirar da solidão. Quando eu fico confuso, meu primeiro pensamento é de que você (ou alguém que nenhum de nós dois conheçamos) está mais esclarecido e que poderá me esclarecer tão logo comece a falar. Quando quero respeito, meu primeiro pensamento é de que eu o obterei conseguinte a um empreendimento enorme do qual eu tome parte. Eu tento com tanta dificuldade buscar o que eu preciso fora de mim de que fico certo de que alguém estará me esperando do outro lado.

No final, a busca só nos leva até às margens do auto-conhecimento. Se nós nunca olharmos para dentro da gente, ficamos propensos a nos tornar especialistas da vida às margens de nós mesmos, raramente descortinando o significado de nossas buscas.

Podemos nos tornar mestres em escalar as montanhas mais altas do mundo ao invés de sermos batedores das trilhas que nos levam ao centro de nosso sofrimento e dor. Nós podemos nos tornar mestres em dirigirmos carros velozes no meio da noite sem sermos capazes de tatear os cantos escuros de nossas mentes. Nós podemos nos tornar mestres em seduzir estranhos em nome do amor e não conseguirmos abraçar os aspectos mais delicados e menos perfeitos do nosso ser. A busca pelo mundo tem sempre sido um espelho para realizarmos a busca dentro de nós e trabalharmos no nosso interior. Não obstante, buscar desafios fora de nós, sempre será um modo de nos digredirmos do apelos de nossas almas para genuinamente assumirmos os riscos de nos conhecermos dentro de nós...” (Mark Nepo)

Martius de Oliveira

017 - Conhecimento e Ignorância


Conhecimento e Ignorância

Mark Nepo, autor do livro “The book of awakening”, menciona como o sol diariamente ilumina tudo à nossa volta embora nós não possamos perceber essa luz até que ela incida sobre um objeto. Sua luz atravessa uma distância enorme, invisível ao longo do espaço até nos darmos conta de sua presença ao iluminar uma folha de grama ou uma gota de água. De forma semelhante a presença de Deus move-se poderosamente entre todos nós, embora só nos demos conta de sua presença quando somos iluminados pela sua luz. Da mesma forma que uma concha sobre a areia só tenha a sua beleza revelada quando é iluminada pela luz do sol nós só nos damos conta da beleza do ser humano ao nosso lado quando um de nós – eu ou a pessoa que estou vendo – é revelada por essa presença.

Conhecermo-nos requer de nós paciência, silêncio, imobilidade e foco sobre o que está abaixo da superfície de nós mesmos. As respostas estão no fundo de nosso ser.

A ignorância sobre a real natureza de quem nós somos é a raiz de todos os nossos problemas pois ela nos faz erroneamente identificarmo-nos com nossos corpos e mentes e que a busca pela satisfação de nossos anseios em um mundo separado e externo.

“Um dia um professor de filosofia, em visita a um Monastério Zen no Japão decide visitar um mestre Zen para lhe pedir explicações a respeito de um ensinamento. O mestre convidou-o para tomar chá. O professor segurou a xícara e o mestre começou a verter o chá até um ponto em que o começou à transbordá-lo sobre o pires e dele para , molhando-o. O copo está cheio diz o mestre, não há como preenchê-lo mais com o que o você deseja. Você é como essa xícara. Como posso contribuir no seu aprendizado se você já se considera repleto do que acredita ser a verdade?

Assim, com este exemplo nos mostra, devemos primeiro esvaziar a mente de todos as nossas pré-concepções e recomeçar novamente a partir do início mas não há a idéia de que a mente deve ser novamente preenchida de idéias. Reflita e teste cada idéia. Reflita sobre novos conceitos na luz do silêncio , expondo-os à discriminação do seu verdadeiro intelecto (buddhi). Existe uma metáfora em que a ignorância é comparada a nuvens que escondem o sol. Nós sabemos que num dia nublado, o sol está totalmente encoberto por nuvens, embora possamos enxergar tudo à nossa volta em virtude da luz sol alcançar os objetos a despeito das nuvens. Na presença da ignorância, falhamos em ver como todas as coisas realmente são mas o fato de poder vermos qualquer coisa é somente devido à presença da Consciência ainda que não seja capazes de apreciá-la.

É a ignorância que é responsável pela nossa desilusão. Ela nos mantém no escuro e sem ela nós estaríamos ”iluminados”. Faz parte da natureza ignorante pessoal não se dar conta de que estamos vivendo a vida em uma incessante busca de alegria e realização, inscientes do grau de ignorância, da falta de reconhecimento de quem realmente somos, reclusos dentro de uma bolha de ilusão. Esse mundo de ilusão é um complexo resultante de nomes e formas que resultam da atividade mental. Essa ignorância (avidya) começa logo que o ego se aproprie das formas e nomes e os tomem como realidades separadas.

O termo em Sânscrito utilizado pela nossa própria condição na Terre é jiva, que significa atman (consciência) identificado com um corpo e uma mente.

 Uma outra metáfora agora para explica avidya e jiva é a seguinte: quem realmente somos (atman) está refletido em uma imagem na superfície de um lago que representa a ignorância (avidya). A imagem no espelho d´água é a imagem do nosso corpo-mente mas não se trata do ser verdadeiro (atman). Da mesma maneira que o reflexo de uma pessoa em um espelho d´água varia conforme o estado da água, calma ou turbulenta, limpa ou barrenta, o reflexo do absoluto varia conforme o estado de avidya sobre o qual está refletido. Somente quando a mente está livre de pré-concepções, calma e transparente como no estado de meditação e que nós poderemos ver as coisas como elas realmente são. Para ser livre da escravidão o homem sábio deve praticar o discernimento entre o que é Ser e Não-Ser. Este discernimento leva o ser humano à um estado completo de contentamento reconhecendo a si como Consciência e Beatitude.

Ainda há muito o que ser dito sobre ignorância e conhecimento, o que será abordado em textos futuros. Um abraço a todos. Shanti!

Martius de Oliveira

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

016 - As oito ramificações do Yoga Integral

As oito ramificações do Yoga Integral

O Yoga integral, também conhecido com Raja Yoga proporciona oito ramificações, cada qual com seu papel necessário para o desenvolvimento.

1 - Yamas ou princípios dhármicos de conduta social adequada são a não-violência (ahimsa), a veracidade (satya), o controle da energia sexual (brahmacharya), o não-furto (asteya) e o desapego (anabhinivesha). Eles servem para estabelecermos uma interação adequada com outros seres e nosso ambiente exterior. O comportamento social adequado é importante para a nossa saúde, bem-estar psicológico e desenvolvimento espiritual.

2 - Nyamas ou princípios dhármicos de comportamento pessoal incluem o contentamento (santosha), a pureza (shaucha), o auto-estudo (svadhyaya), a auto-disciplina (tapas) e a redenção a Deus (Ishvara pranidhana). Esses são princípios de estilo de vida necessários para estabelecer uma prática yóguica pessoal na vida. Eles também são também a base dos regimes de vida ayurvédicos para obter-se equilíbrio. A pureza (shaucha) inclui uma dieta vegetariana e a desintoxicação física. A redenção ao divino é a chave para sustentar todas as práticas que não podem ser atingidas meramente pelo esforço pessoal. A auto-disciplina (tapas), o auto-estudo (svadhyaya) e a redenção ao divino (Ishvara pranidhana) são os fundamentos do Kriya Yoga, o yoga da ação interna que torna a pessoa pronta para o samadhi (absorção).

3 - Asana significa a postura correta que é uma postura em harmonia com nossa consciência interna. Ela busca um postura sentada, comfortável e sustentável que facilite a meditação. As asanas produzem equilíbrio e harmonia ao corpo físico, particularmente ao sistema músculo-esquelético que é o que dá suporte ao corpo físico. As asanas são parte do sistema de tratamento ayurvédico para o corpo físico.

4 - Pranayama significa o controle da respiração mas também a expansão controlada da força vital. Não se trata da supressão da respiração, o que seria prejudicial, mas contatar com fontes superiores de prana ambas dentro e fora do corpo. Pranayamas consistem na realização do aprofundamento e expansão do prana até que ele nos leve a uma condição de paz. Quando o prana está em paz, a força vital, os sentidos, as emoções e a mente são postos em estado de repouso. O pranayama também é um método ayurvédico poderoso de aumentar o vigor e a vitalidade assim como de promover a cura.

5 - Pratyahara que não se trata simplesmente de fecharmos os nossos sentidos mas controlarmos os sentidos, aplicarmos os sentidos corretamente e a habilidade de ir além deles. O modo como usamos os nossos sentidos determina o tipo de energia que absorvemos do mundo externo e que alimenta as nossas mentes. Essa energia tanto pode nos nutrir como nos desestabilizar.

6 - Dharana é o controle da mente, no sentido de direcionamento da atenção de modo correto. É a capacidade de focarmos toda a nossa energia mental para nos determos no que quer que precisemos examinar. Dharana envolve o direcionamento e controle da nossa atenção, como a concentração em certas idéias e objetos em particular. Técnicas comuns de Dharana incluem concentração sobre os chakras e seus elementos governantes. Uma outra técnica consiste em concentrar toda a nossa atenção no coração. Uma terceira técnica consiste em concentrar-se sobre o espaço externo e o espaço interno que habita dentro de nosso coração.

7- Dhyana é meditação, que é a nossa capacidade de sustentar a nossa atenção sem distração. A meditação nos permite espelhar a realidade e objetivamente perceber a verdade das coisas. A meditação pode ser feita sobre um objeto externo, como o oceano, o céu, uma imagem, uma idéia, um princípio. A meditação na verdade não é propriamente uma técnica mas um estado natural de lucidez que requer algum preparo para ser alcançada.

8 – Samadhi, que podemos também chamar de absorção, é a capacidade de se tornar um com o objeto de nossa percepção. É a unidade do percebedor e do que é percebido em alinhamento de percepção, através do qual a natureza da realidade última pode ser claramente conhecida. Samadhi é a nossa capacidade de se unir com as coisas em consciência que no mostre o nosso contentamento e plenitude na vida. Ele nos leva até a natureza Divina subjacente em todas as coisas. Samadhi é a união.

Texto baseado no livro "Yoga e Ayurveda – Self-healing and Self-realization" de David Frawley.

Martius de Oliveira

015 - Ayurveda e Yoga

Yoga e Ayurveda

Yoga e Ayurveda são ciências irmãs que se desenvolveram juntas e que repetidamente influenciaram uma à outra através da história. História esta, que remonta um período muito antigo da civilização, há dezenas de milhares de anos atrás, e que marcou o início do atual ciclo ou era desta civilização. O Yoga e o Ayurveda são partes integrais do grande sistema de conhecimento Védico que diz que todo o universo é parte de um Absoluto e que a chave para o conhecimento cósmico jaz dentro de nossa mente e coração. Comos disciplinas Védicas, yoga e Ayurveda trabalham juntas para potencializar seus benefícios em todos os níveis. O Yoga é a primeira e mais importante ciência Védica de auto-realização. Através de sua prática espiritual, principalmente através da meditação, ela nos leva além da tristeza e ignorância do mundo. Ela nos ensina como nos movermos de nossa identidade corpórea e egocentrada para o nosso Ser imortal que habita dentro de nossos corações. O Yoga proporciona uma chave para o desenvolvimento espiritual, o que no sentido Védico, significa ganhar conhecimento da nossa verdadeira natureza além do tempo-espaço, morte e sofrimento.

O Ayuverda é essencialmente uma ciência de cura-do-Ser objetivando aliviar-nos de nossas doenças do corpo e da mente. Isso não significa que o Ayurveda seja meramente um método de cura pessoal que não requeira ajuda de terapêutas e médicos. De fato, o Ayuverda nos diz que os profissionais das áreas da saúde são indispensáveis dadas as complexidades das doenças e variabilidades dos requerimentos de saúde. Quando o Ayuverda diz que está objetivando a cura-do-Ser e não a cura-de-si-próprio ela está colocando como objetivo a restauração da integridade do Ser que existe dentro de cada um de nós, e isso inclui a cura espiritual. O ayuverda trabalha com o conceito de tipos constitucionais, que serão estudados mais adiante, entretanto o lado físico do tratamento ayurvédico com dietas e ervas é somente parte do sistema. O seu aspecto interior, curar o corpo sútil e a mente (o que inclui a prática de yoga e meditação) talvez seja a outra parte ainda mais importante. As ramificações do yoga serão visto com mais detalhe no próximo texto. Abraços.

Martius de Oliveira

014 - Advaita e Ayurveda

Advaita e Ayurveda
Em diversos textos falamos sobre a mente e o corpo. Embora a nossa real natureza não seja nem um nem outro, é muito difícil agirmos com discernimento para conhecermos a nossa real natureza se apresentarmos algum tipo de distúrbio físico ou mental.
Na medicina Ayurvédica, as doenças físicas ocorrem principalmente devido a fatores externos como hábitos de dieta inadequados ou exposição a patógenos. As doenças mentais, por outro lado, surge principalmente a fatores internos como a utilização inadequada dos sentidos e acumulação de emoções negativas. Na maior parte das vezes, no entanto, as doenças físicas e psicológicas surgem juntas, superpostas, sendo raro que uma ocorra sem a outra.  No texto abaixo, extraído do livro “Ayurveda and the Mind – The healing of the Consciousness” do Dr. David Frawley, ele comenta sobre a natureza das doenças físicas e mentais e como umas interferem nas outras.
“Algumas doenças, como infecções agudas, têm quase exclusivamente causas físicas, podendo ser tratadas no nível puramente físico. No entanto, a maior parte das doenças têm causas psicológicas e, na média, todas as doenças persistentes ou crônicas têm efeitos psicológicos. A doença física perturba as emoções e enfraquece os sentidos. Distúrbios psicológicos produzem consequências físicas. Eles nos conduzem a desequilíbrios alimentares, desgastam o coração e os nervos, e por fim enfraquecem o corpo físico.
No mundo desenvolvido moderno, os nossos problemas são principalmente psicológicos. Nós temos uma nutrição adequada, abrigo e vestimentas, que evitam com que adquiramos a maior parte das doenças físicas. Ainda assim, embora a maior parte de nós não tenha problemas físicos sérios, nós sofremos com perturbações psicológicas. Estas perturbações podem se manifestar como sentimentos de solidão, não sermos amados, apreciados ou validados, ou ainda, sofrermos de ansiedade, stress ou raiva. Isso pode levar a um enfraquecimento da nossa energia física e impedir-nos de fazer o que realmente desejamos.
O nosso próprio estilo de vida gera infelicidade. Nós vivemos em uma cultura ativa e turbulenta na qual há pouca paz ou contentamento. Nós perturbamos as raízes orgânicas da vida, que são uma boa alimentação, água e ar de qualidade e uma família para obtermos suporte. Vivemos em um mundo artificial dominado por uma paisagem urbana e mídia de massas, onde há muito pouco para nutrir a alma. Nós estamos sempre desejando novas coisas e raramente estamos contentes com o que possuímos. Corremos de um estímulo para outro, raramente observando que o processo de nossas vidas não está nos levando a lugar algum. Nossas vidas são padrões de acumulações na qual nós nunca estamos calmos ou descansados. A nossa medicina funciona mais como um band-aid  para nos mantermos seguindo em nossos estilos de vida errôneos e raramente se dirigem para as raízes comportamentais de nossos problemas. Tomamos uma pílula esperando que os nossos problemas se vão, sem reconhecer que este possa ser apenas um sintoma de nossa vida desequilibrada, como uma luz de alerta que nos avisa para termos mais diligência.
O Ayurveda, por outro lado, nos ensina a nos harmonizarmos com a natureza, a desenvolvermos simplicidade e contentamento como chaves para o nosso bem-estar. Ele nos mostra como vivermos em um estado de equilíbrio, onde a realização é um estado de ser e não de vir a se tornar alguém. Ele nos conecta com nossas fontes de criatividade e alegria dentro do nosso consciente, de forma a que nós possamos permanentemente sobrepujar nossos problemas psicológicos.  O Ayurveda proporciona uma solução real para os nossos problemas de saúde, que é retornar para a Unidade com o Universo e o Divino dentro de nós. E isso requer mudanças em como vivemos, pensamos e percebemos.“
Dr. David Frawley

013 - Os princípios de Ayurveda


As três grandes forças cósmicas no Ayurveda

De acordo com os antigos textos védicos, há três forças essenciais em existência. A primeira força é chamada Prana, um princípio de energia que produz movimento, velocidade e animação. Prana significa a respiração primordial ou força vital. Toda a energia segue os movimentos de inalação e exalação, como em um movimento de contração e expansão, de cheia e vazante. Por trás de toda energia há consciência, e esta energia se movimenta de forma espontânea em um movimento de pura beleza e harmonia. A segunda força é o princípio de radiância ou luz chamada Jyoti. A energia quando se movimenta se transforma e produz luz e calor. A terceira força é o princípio de coesão, consistência e desenvolvimento da forma. Há uma afinidade entre estas forças no sentido de um único ritmo, de uma unidade comum. Essa força coesiva é chamada Prema e é o poder do amor. O amor é uma força real que mantêm tudo coeso e garante a continuidade e sustentação de todas as criaturas em suas vidas e lucidez. Estas três forças – Prana, Jyoti e Prema - Vida, Luz e Amor – relacionam-se aos três elementos ar (vento), fogo (sol) e água (chuva).

Os três doshas

O Ayuverda reconhece as três-forças primárias no corpo, também chamados de humores biológicos – Vata, Pitta e Kapha – correspondentes aos elementos, ar, fogo e água, respectivamente. Como forças móveis e ativas, eles tanto determinam o crescimento quanto a degenerescência. Em Ayurveda a palavra humor é denominada dosha. No ocidente usamos o termo humor para descrever o estado emocional das pessoas mas historicamente a palavra humor era bastante usada em ciências médicas na Grécia (medicina humoral) para designar fluidos corporais (bile amarela, bile negra, sangue e fleuma) que influenciavam na saúde e no temperamento das pessoas. Em Ayurveda dosha significa aquilo que escurece e produz degradação. Quanto os doshas entram em desequilíbrio, eles se tornam as forças causativas que produzem as doenças.

Vata é o humor biológico relacionado ao ar ou vento. Vata significa "aquilo que move coisas" e é a força humoral que governa o equilíbrio mental e sensorial e a orientação, adaptabilidade mental e compreensão.

Pitta é o humor biológico corresponde ao fogo, e é também traduzido com bile. O seu significado é "aquilo que digere as coisas". O dosha Pitta é responsável pelas transformações química e metabólicas no corpo e responde também pela capacidade de digerir mentalmente impressões sensoriais, assim como governa a nossa capacidade de perceber a realidade e entender as coisas como elas são.

Kapha é o humor biológico representado pela água e é também traduzido como fleuma. Kapha significa aquilos que mantém as coisas unidas e coesas. O dosha Kapha provê as substâncias e dá suporte dando constituição ao tecidos corporais. Ela provê suporte emocional à vida e está relacionada aos traços positivos emocionais de amor, compaixão, paciência e perdão.

O próximo texto será sobre Ayurveda e tem relação com o que conversamos sobre Advaita pois é sobre a medicina do corpo e mente. Até breve!

Martius de Oliveira

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

012 - Alegria

Alegria

A alegria é o nosso estado natural. O que vem e vai é o nosso ego. Nós pensamos que somos infelizes, porque nós esquecemos a nossa natureza essencial, que é a beatitude. Mesmo um imperador, a despeito de sua riqueza e poder, frequentemente sofre de uma mente perturbada. O sábio, mesmo aquele não conhece de onde virá sua próxima refeição, está sempre feliz.


Por que desejamos objetos? Evidentemente, a mente deseja sentir a falta ou a posse de algo que ela quer. O objeto, uma vez obtido, preenche esse desejo de querer. Quando um objeto é obtido com sucesso, a mente sente-se realizada, em um estado de alegria. Mas o que é realmente alegria? À medida que a alegria preenche a mente desejosa, de onde vem essa alegria? Habitualmente, já que nossas mentes desejam objetos, nós pensamos que a alegria é algo que possa ser encontrada nesses objetos. Mas muito obviamente isto não é verdade. Um objeto pode nos trazer ou não alegria, dependendo da hora e da ocasião. Mas se ela não pode ser encontrada de verdade nos objetos aonde a alegria pode ser encontrada? Será que é na mente que ela reside? Não, não pode ser porque se assim fosse nós estaríamos sempre em estado de alegria e nesse caso jamais veríamos a nossa mente insatisfeita. Se a felicidade estivesse dentro da mente então nem teríamos porque desejar. Assim pode-se ver que a alegria não é algo que se encontra fora mas atualmente é um aspecto da nossa natureza que por engano ignoramos.


A alegria é a própria essência da nossa natureza; alegria e o Ser não são diferentes. Não há alegria nos objetos do mundo. Nós imaginos, por causa de nossa ignorância, que podemos extrair alegria de objetos. Quando a nossa mente se aventura no mundo externo, nós experimentamos desventura. Na verdade, quando os seus desejos são satisfeitos, a mente retorna novamente ao seu canto e sentimos a alegria que nós somos.

No ponto de júbilo você entra na Natureza real. Você foi além do seu ego. Voê é como que lançado na Natureza real e você está lá sozinho e brilhando na sua própria Glória. Isso é o que se deve entender por Alegria.


Quando estamos verdadeiramente alegres não há pensamentos – a mente e o ego entram em suspensão e Ananda, palavra em Sânscrito que pode ser traduzida por "Verdadeira Felicidade".


Ao olhar uma cereja em uma cerejeira, se você quiser saber como identificá-la, basta olhar apenas uma cereja, prová-la, e você saberá o sabor e textura de todas as frutas no pé. O único propósito sensato de uma pessoa deve ser descobrir a natureza de si própria, o seu sabor, a sua textura, e as suas cores. Todo o propósito da existência humana é conhecer a sua própria essência. É provar-se a si própria para conhecer e discernir que todos os frutos da árvore são uma única Unidade vindo de uma mesma Fonte.


Martius de Oliveira

terça-feira, 9 de outubro de 2012

011 - Ainda sobre significado, propósito e alegria

Para quase toda a humanidade a morte é considerada como o marco final de suas vidas, muito naturalmente, já que cessa a vida física. No entanto do ponto-de-vista cultural ela marca também a data-limite na qual nossas ambições devem ter sido alcançadas. Os seres humanos sabem que são mortais e que esta percepção do destino leva muitas pessoas a se refugiarem na crença de sua vida após a existência e outras a um sentimento de desespero angustiante com sua alienação. A maior parte das pessoas oscila entre estes dois pensamentos e geralmente terão medo de tudo que possa parecer levá-las à morte mais rapidamente, como a pobreza, a solidão ou a doença. Muitas outras tentarão forjar um salvo-conduto contra a morte, procurando adiá-la com prosperidade, segurança, manutenção da juventude, segurança física, poder e reconhecimento social. Quanto mais as pessoas têm medo do abismo, do nada existencial tanto mais precisam adquirir tudo à sua volta. O medo, a ganância e o ódio são características de uma humanidade que vive em desespero. É claro que esta atitude na vida não vai preveni-las de morrerem, mas com certeza vai macular cada momento de suas vidas, até mesmo os momentos mais felizes com o desconforto da sombra da morte.

Para quem acredita em Advaita, a morte do corpo físico não apresenta real importância. É somente no nível do mundo fenomenal que ela tem algum significado. Quem nós somos em realidade é ilimitado e sendo assim nós nunca conseguiremos satisfação em um mundo limitado. A obtenção da felicidade na busca de valores mundanos tradicionais, até mesmo sendo afortunados obtendo-os ao final da vida, ainda leva-nos à insatisfação. É somente através da percepção de nossa verdadeira natureza que podemos atingir o contentamento eterno que estamos sempre vaidosamente procurando ignorantes do fato de quem já somos.

De acordo com o Advaita, a causa do mal recai sobre a nossa ignorância. Ninguém perpetra uma maldade à plena luz do conhecimento, ele/ela simplesmente não consegue. O assassino, o perdulário, o corrupto, o ladrão, estão sendo sempre impelidos pelo mesmo motivo – preencher uma necessidade criada devido a uma aparente privação do seu próprio ser. Esta privação deve ser entendida como um perda de completude ou plenitude. O Ser é infinito e preenchido (purna). Nada falta. É a ignorância (avidya) que gera a falsa noção de limitação. A escravidão à essa noção de limitação é que alguém tenta ganhar algo que pensa que lhe falta. Ela perde a beatitude inata e daí surge o desejo por alegria e prazer (kama). A pessoa se acha presa a um corpo e tenta compensar esta limitação através da aquisição de objetos, prosperidade, nome e posição (artha). Assim, kama e artha se tornam os objetivos básicos de um ser corpóreo.

Em Advaita, Bom e Mal são termos que se relacionam aos padrões particulares morais de uma dada sociedade e às idéias que os indivíduos tem a respeito destes conceitos. Tudo está no reino das aparências e não se relacionam a realidade não-dual por trás dos nomes e formas. Uma vez perguntaram: "Por que Deus permite o mal?". Esta pergunta é tão absurda quanto "Por que Deus permite o bem?", assim como é absurdo perguntar "Por que a água permite a enchente?", "Por que o sol permite o incêndio?", "Por que a Terra permite o terremoto?" . "Você pragueja ou abençoa o fogo?", "Você pragueja ou abençoa a água?", "Você pragueja ou abençoa a terra?". Brahman em sânscrito significa o "Absoluto", "Deus", "O Ser Universal". Brahman não é bondoso no sentido em que Cristo foi bondoso. A vida de Jesus Cristo expressou a luz da Realidade refletida em um mundo relativo. A Realidade em si própria está além de todos os fenômenos, até mesmo dos mais nobres. A Realidade está além da pureza, da beleza, da alegria, da glória ou do sucesso. Ela só pode ser descrita como boa se nós quisermos dizer que a consciência absoluta é conhecimento absoluto, e o conhecimento absoluto é alegria absoluta "Ananda".

Roy Whenary diz "que o ego, o "Eu", jamais consegue ser feliz. Os seus apegos emocionais, identificação com objetos de felicidade, resistência e negatividade, tudo isso nos priva da alegria. Na tradição Hindu "nirvikalpa samadhi" pode ser traduzida como "alegria sem objeto", o que descreve bem o que viríamos a sentir através do vazio silencioso de nossa verdadeira natureza. É uma alegria espontânea. É o nosso estado natural de ser, nosso direito de nascença, que não é particularmente dependente de objetos. Buscar o sentimento de cada momento de nossas vidas eventualmente nos leva a transormação no modo como vemos e experienciamos a vida. A mente não pode fazer isso sozinha. Nós temos que mergulhar em nosso corpo, em nosso sentimento e então talvez nós nos esbarremos com essa alegria que é nosso direito de nascença. Quando encontrarmos clareza na nossa verdadeira natureza, todos os obstáculos à alegria tombarão, revelando uma alegria interior que, como uma flor, está pronta a responder à luz".

Martius de Oliveira


segunda-feira, 8 de outubro de 2012

010 - Significado e Propósito...

As Camadas ou Koshas de nossos corpos


No Advaita, a nossa verdadeira essência encontra-se envolvida por camadas que em sânscrito são chamadas de Koshas. Nós nos identificamos com diversas camadas sucessivas de Koshas à medida em que adquirimos maior esclarecimento. Primeiro, nos indentificamos com o corpo físico, que é a primeira camada, chamada annamayakosha, depois nos identificamos com a segunda camada ou envoltório que corresponde ao "corpo vital" e é chamado pranamayakosha, que anima o corpo físico. Então passamos a nos identificar com a terceira camada, que é a mental e que consiste de nossa mente e de nossos órgãos de percepção. Essa estrutura mental é chamada de manomayakosha e transmite informações do mundo externo. A mente é conhecida em sânscrito como Manas, e a mente causas muitos problemas pois ela tenta pensar e entender tudo. Essa camada é talvez a que com a qual mais nos identificamos. A quarta camada, vijnanamayakosha, corresponde a uma faculdade mais elevada da mente e é responsável pela discriminação, pelo discernimento, daquilo que é falso do que é verdadeiro, real e irreal, no mundo fenomenal. Em silêncio, ela sabe sem precisar pensar. Este intelecto superior é chamado em sânscrito de buddhi, e não guarda correlação com a inteligência escolástica como usualmente a conhecemos. A quinta camada com a qual nós erroneamente nos identificamos é com a anandamayakosha ou camada de felicidade ou beatitude. Uma vez que ela é supremamente feliz em natureza, é reconhecidamente o mais difícil de todos os koshas a serem transcendidos.


A busca pelo significado e propósito em nossas vidas


Buscamos significado em nossas vidas e daí somos motivados a agir de determinadas formas ao invés de outras. Tememos a morte e saímos em busca de todos os meios que possam evitá-la. Para muitas pessoas o significado da vida relaciona-se unicamente com o constante propósito de maximizar o prazer e minimizar a dor. Qualquer senso de propósito na vida é frequentemente confundido como um simples desejo de ser feliz.


Quando falamos de propósito na vida incorporamos acidentalmente o conceito de tempo linear à ela: a minha vida começa e eu tenho um desejo ou propósito a concretizar, passo a minha vida me esforçando para alcançar o meu propósito, seja fazer algo, seja tornar-me algo, seja adquirir algo. No final da vida, posso ter falhado ou tido sucesso relativamente ao meu propósito. Assim, eu posso linearizar temporalmente a minha vida com um objetivo ou propósito, um esforço ou um trabalho de vida e uma expectativa ou prêmio. O sucesso significa alegria e o fracasso significa frustração e infelicidade.


Albert Einstein já havia falado algo semelhante ao que está sendo exposto quando disse em seu livro sobre "A teoria da relatividade restrita" que o tempo era na verdade uma abstração da mente e que servia ao propósito de colocar em ordem as nossas experiências. O tempo é relacionado à mente. Ele é um conceito que nós usamos para darmos sentido ao mundo aparente.


Mas significado e propósito na vida, embora possam parecer conceitos iguais podem ser diferenciados com uma metáfora bem simples. Se você entende como um mapa funciona, com as linhas horizontais e verticais significando latitudes e longitudes, linhas de nível representando diferentes altitudes, formas e linhas com cores indicando no mapa lagos e rios, florestas e campos você poderá apreciar o significado do mapa como um valioso instrumento de navegação, você sempre saberá apreciar o significado de qualquer mapa.


Se você for caminhar por um território que lhe é desconhecido nas Montanhas do Novo México e tiver um mapa da região e uma bússola você poderá se orientar por entre florestas, desertos, campos, montanhas, rios e vales para chegar até uma localidade desejada e o mapa além de ter significado lhe servirá também a um propósito. Mas se o mapa for da Amazônia ele também terá significado mas não lhe servirá a nenhum propósito.


O que o Advaita tenta fazer é lhe dar conceitos e símbolos, como num mapa, para você se orientar mas não há propósito em deslocar-se para lugar algum. Você já está lá. O que o Advaita tenta fazer é limpar a sua mente de impressões sobre o que você pensa do mundo e livrá-lo da ignorância que o impede de reconhecer quem você é. Não é uma metáfora perfeita do que representa o Advaita mas já ajuda um pouco a entendermos.


O propósito é como ter um objetivo final em mente que deve ser atingido antes que morramos. O significado é algo que nós impomos a um mundo em mudança de forma a torná-lo mais aceitável. Não é tampouco algo intrínseco ao Universo. Em última análise, trata-se somente de um conceito através do qual nós vemos e interpretamos o que está acontecendo. Se o conceito for estável, então podemos nos iludir em crermos a situação externa a nós também é estável e que até certo ponto está sob nosso controle.


Há muito ainda a se falar sobre esses assuntos e eu mesmo sou um principante no assunto, começando a brincar com conceitos e formas de pensar assim como também de refutar. Espero que este texto, como os outros, estimule a todos que estão acompanhando a também a brincar com idéias e conceitos e formas de pensar e entender o que se passa a nossa volta, a transitoriedade de tudo e também sentir com o coração o mundo, as pessoas, e toda a vida que está ao nosso redor...

 
Martius de Oliveira




domingo, 7 de outubro de 2012

009 - Sobre Livre-Arbítrio e Destino


Sobre livre-arbítrio e destino

O livre-arbítrio é um poder presumível que um indivíduo possui para agir do modo que ele/ela bem entenda. É a idéia de que nós podemos escolher de acordo com os nossos desejos e crenças morais.

O determinismo estabelece que tudo o que acontece teve causas prescedentes. Uma dessas causas seria a nossa própria vontade, de forma que ele não oferece obstáculo a existência do livre-arbítrio. Essa é a posição que a maior parte de nós assume. Nós acreditamos que as nossas ações têm um efeito (do contrário, o mundo seria anárquico) mas nós sentimos que, no entanto, temos um escolha sobre como a nossa consciência deve agir ou não.

O Advaita tradicional é efetivamente determinístico, como definido acima. A lei do carma diz que nossas vidas são o resultado de nossas ações passadas, desta ou de outras vidas pregressas. Ele estabelece que nós nascemos com sâmskaras (impressões mentais) de outras vidas que precisam ser trabalhadas agora através do purushartha ou "auto-esforço" que nos permita sobrepujar os frutos de nossas ações pregressas.

O escritor Steve Harrison disse que os pensamentos sempre parecem possuir uma escolha. A função essencial do pensamento é medir e prever. A esse respeito, nós viveríamos em um mundo de escolhas. Mas essa escolha, esse livre arbítrio, possui uma qualidade mecânica a ele associada e enquanto parece que há uma aparente liberdade, ela está de fato confinada a uma intepretação conceitual.

Dennis Waite diz que o conflito entre destino e livre-arbítrio parece um paradoxo insolúvel mas deve-se lembrar que paradoxos são por natureza para a mente apenas, que está se esforçando em aplicar razão e lógica. É a mente o real problema e não o paradoxo. Na realidade, não há carma, nem sâmskara ou dharma e que o problema de livre-arbítrio é dissolvido na entendimento de que não há ninguém fazendo uma escolha.

Martius de Oliveira