quarta-feira, 3 de outubro de 2012

006 - Nós não somos nossos egos

Quem somos nós ?

Nós, numa sociedade "moderna", nos esforçamos para manter os nossos dentes e cabelos, removermos nossas rugas e linhas de expressão, viver até os cem anos de idade, mesmo que não tenhamos uma razão para viver ou conheçamos algum propósito para a vida. Quase sempre morremos desesperadamente apegados aos nossos corpos decadentes e com medo de "viver" o processo de morte. Nós vivemos e morremos sabendo tão pouco sobre a nossa própria natureza. Se nós tivéssemos uma idéia melhor sobre quem somos nós, talvez pudéssemos enfrentar estes processos sem tanto medo e pesar, talvez até com serenidade e paz interior.

Afinal de contas, quem somos nós? Quem é o ser atrás da mente? As impressões sensoriais dependem dos órgãos sensoriais como os ouvidos, olhos e a pele. As emoções e pensamentos dependem de nossas mentes.

Através do processo de uso de nossas mentes para identificarmo-nos pelo pensamento, nós perdemos pouco a pouco a capacidade de realmente compreendermos quem nós somos e começamos a dizer coisas como Eu sou o meu nome, Eu sou a minha nacionalidade, Eu sou a minha religião, Eu sou meu sexo, Eu sou meu estado matrimonial, Eu sou meu partido político, Eu sou meu time, Eu sou minha idade, Eu sou meu signo no horóscopo, Eu sou a minha raça, Eu sou a minha profissão, etc. No final, nós somos uma composição fragmentada de pensamentos que presumivelmente são "eu" e "não-eu". Ao mesmo tempo em que pensamos que nós podemos nos definir através do "Eu sou os meus pensamentos a meu respeito", somos erroneamente levados a discernir que os outros são "O que nós pensamos a respeito deles".

É aí que o ego começa a se tornar muito evidente. O Ego é chamado de "Ahamkara" em Sânscrito, o que significa o "Processo-do-Eu". Como o Dr. David Frawley coloca: "O ego é um processo de auto-identificação no qual nós associamos nosso ser interior com algum objeto ou qualidade exterior. Através dele nós determinamos que "Eu sou isso" ou "Isso é meu". O ego cria a auto-imagem, ou seja, o conceito "Eu-sou-meu-corpo" o que resulta num senso separado de si. Através desse pensamento, nós nos tornamos isolados e nos sentimos diferentes do resto do mundo e das criaturas em torno de nós. O ego é a função da consciência que identifica a si própria com um objeto, através do qual nós nos sentimos uma unidade com um corpo em particular. Somente o que nós identificamos como sendo nós ou pertencendo a nós, como a nossa família e amigos, podem ser profundamente sentidos e que podemos realmente trazer até à nossa consciência".

O Dr. David Frawley prossegue: "O ego é muito diferente do nosso Ser verdadeiro (Atman), o qual é o puro "Eu-sou" vazio de objetividade. O nosso verdadeiro Ser se coloca acima de todas as formas físicas e condições mentais e é eternamente desapegado, livre e lúcido. O ego surge do "Eu penso" que está por trás de todos os outros pensamentos. Para qualquer pensamento que tenhamos, o pensamento do "eu" ou do "si" deve existir primeiro. O ego introduz o princípio de divisão através do qual a consciência está fragmentada. Ele mantém o aspecto mais subjetivo de nosso ser preso em alguma forma ou qualidade objetiva. O ego é uma função primária da consciência dirigido externamente. Ele traz todo o desenvolvimento exterior da consciência através da mente e do corpo, que são fragmentos do campo de lucidez. "

O ego surge quando nós falhamos em nossa inteligência (Buddhi) seja através do processo de percepção ou de conceitualização do nosso verdadeiro Ser, que é pura lucidez, e o tomamos com o complexo corpo-mente que nada mais é que um objeto.

Quando alguém pensa "Eu refuto minha mente" ou "Eu refuto o que minha mente pensa" é análogo a dizer "Eu refuto meu coração que bate", esperando que a simples declaração faça o coração parar de algum modo. O coração bate e a mente pensa, é só. A prática de respiração do Yoga (pranayama) e as posturas do Yoga (asanas) ajudam-nos a acalmar o corpo e deixá-lo tão quieto quando possível para que a mente não seja perturbada por ele. Quando dizemos ou pensamos "Eu refuto..." estamos dizendo ou pensando "Eu sou o refutador de pensamentos" e pensamos que estamos vivendo em um modo diferente dos outros pois "Eles são não-refutadores de pensamentos". A mente ainda está jogando o jogo do ego do "Eu-processo" e isto mal consegue ser percebido.

A mente é parte do corpo em uma composição bastante complexa. Você não pode parar de pensar com uma mente saudável, mas com bastante treinamento você pode diminuir ou quase parar o fluxo de pensamentos. Mas o que é mais importante saber é que os pensamentos são as nuvens passando e você é o céu azul no fundo.

Martius de Oliveira

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