sábado, 13 de outubro de 2012

017 - Conhecimento e Ignorância


Conhecimento e Ignorância

Mark Nepo, autor do livro “The book of awakening”, menciona como o sol diariamente ilumina tudo à nossa volta embora nós não possamos perceber essa luz até que ela incida sobre um objeto. Sua luz atravessa uma distância enorme, invisível ao longo do espaço até nos darmos conta de sua presença ao iluminar uma folha de grama ou uma gota de água. De forma semelhante a presença de Deus move-se poderosamente entre todos nós, embora só nos demos conta de sua presença quando somos iluminados pela sua luz. Da mesma forma que uma concha sobre a areia só tenha a sua beleza revelada quando é iluminada pela luz do sol nós só nos damos conta da beleza do ser humano ao nosso lado quando um de nós – eu ou a pessoa que estou vendo – é revelada por essa presença.

Conhecermo-nos requer de nós paciência, silêncio, imobilidade e foco sobre o que está abaixo da superfície de nós mesmos. As respostas estão no fundo de nosso ser.

A ignorância sobre a real natureza de quem nós somos é a raiz de todos os nossos problemas pois ela nos faz erroneamente identificarmo-nos com nossos corpos e mentes e que a busca pela satisfação de nossos anseios em um mundo separado e externo.

“Um dia um professor de filosofia, em visita a um Monastério Zen no Japão decide visitar um mestre Zen para lhe pedir explicações a respeito de um ensinamento. O mestre convidou-o para tomar chá. O professor segurou a xícara e o mestre começou a verter o chá até um ponto em que o começou à transbordá-lo sobre o pires e dele para , molhando-o. O copo está cheio diz o mestre, não há como preenchê-lo mais com o que o você deseja. Você é como essa xícara. Como posso contribuir no seu aprendizado se você já se considera repleto do que acredita ser a verdade?

Assim, com este exemplo nos mostra, devemos primeiro esvaziar a mente de todos as nossas pré-concepções e recomeçar novamente a partir do início mas não há a idéia de que a mente deve ser novamente preenchida de idéias. Reflita e teste cada idéia. Reflita sobre novos conceitos na luz do silêncio , expondo-os à discriminação do seu verdadeiro intelecto (buddhi). Existe uma metáfora em que a ignorância é comparada a nuvens que escondem o sol. Nós sabemos que num dia nublado, o sol está totalmente encoberto por nuvens, embora possamos enxergar tudo à nossa volta em virtude da luz sol alcançar os objetos a despeito das nuvens. Na presença da ignorância, falhamos em ver como todas as coisas realmente são mas o fato de poder vermos qualquer coisa é somente devido à presença da Consciência ainda que não seja capazes de apreciá-la.

É a ignorância que é responsável pela nossa desilusão. Ela nos mantém no escuro e sem ela nós estaríamos ”iluminados”. Faz parte da natureza ignorante pessoal não se dar conta de que estamos vivendo a vida em uma incessante busca de alegria e realização, inscientes do grau de ignorância, da falta de reconhecimento de quem realmente somos, reclusos dentro de uma bolha de ilusão. Esse mundo de ilusão é um complexo resultante de nomes e formas que resultam da atividade mental. Essa ignorância (avidya) começa logo que o ego se aproprie das formas e nomes e os tomem como realidades separadas.

O termo em Sânscrito utilizado pela nossa própria condição na Terre é jiva, que significa atman (consciência) identificado com um corpo e uma mente.

 Uma outra metáfora agora para explica avidya e jiva é a seguinte: quem realmente somos (atman) está refletido em uma imagem na superfície de um lago que representa a ignorância (avidya). A imagem no espelho d´água é a imagem do nosso corpo-mente mas não se trata do ser verdadeiro (atman). Da mesma maneira que o reflexo de uma pessoa em um espelho d´água varia conforme o estado da água, calma ou turbulenta, limpa ou barrenta, o reflexo do absoluto varia conforme o estado de avidya sobre o qual está refletido. Somente quando a mente está livre de pré-concepções, calma e transparente como no estado de meditação e que nós poderemos ver as coisas como elas realmente são. Para ser livre da escravidão o homem sábio deve praticar o discernimento entre o que é Ser e Não-Ser. Este discernimento leva o ser humano à um estado completo de contentamento reconhecendo a si como Consciência e Beatitude.

Ainda há muito o que ser dito sobre ignorância e conhecimento, o que será abordado em textos futuros. Um abraço a todos. Shanti!

Martius de Oliveira

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