sábado, 6 de outubro de 2012

008 - Carma

Carma

Carma é uma palavra em Sânscrito que pode ter vários significado como ação, ato, rito, trabalho, resultado.

Swami Nikhilananda disse que o seu uso em Vedanta significa o destino forjado por alguém em uma encarnação passada ou presente: o armazenamento de tendências, impulsos, características e hábitos, os quais determinam a futura corporalização e ambiente de nascimento.

Dennis Waite, em seu livro "Back to the Truth – 5000 anos de Advaita" diz não exatamente com essas palavras que o carma em si refere-se à teoria ou princípio, segundo o qual nossas ações têm consequências para nós no futuro a menos que elas sejam realizadas de uma maneira totalmente não-passional. Nós tendemos a agir de modos habituais de acordo com a nossa educação em casa, na escola, etc, ou mais particularmente de como nós nos comportamos no passado. Essas tendências de se comportar de uma certa maneira são chamadas de Vásanas em Sânscrito. Essas tendências ou Vásanas existem porque havíamos deixado impressões mentais em nossas vidas pregressas. Essas impressões mentais são denominadas Sâmskaras. Assim, nós podemos dizer de uma maneira limitada que determinados Sâmskaras (impressões mentais) em uma vida nos causarão Vásanas (tendências ou propensões) em outra vida que por sua vez irão influenciar no modos particulares como agiremos.

Swami Chinmayananda vai mais adiante :

"Nós explicamos anteriormente como a ignorância espiritual se expressa no nível intelectual, como desejos, que novamente, na zona mental, manifestam-se como pensamentos, e como estes pensamentos coloridos por nossas tendências mentais manifestam-se, como ações no mundo exterior. Onde os pensamentos forem nobres, ações nobres resultaram, onde os pensamentos são obtusos e animalescos, as ações geradas terão uma motivação correspondentemente viciosa e cruel. Assim, as projeções da mente no mundo exterior são de fato uma cristalização dos Vásanas mentais sobre os objetos do mundo exterior e se constituem em ações. Onde houver uma mente, ações serão perpetradas. Essas ações são geradas pela mente, fortalecidas na mente e em última instância executadas pela mente Mas o indivíduo, devido a sua falsa identificação com sua própria mente, tem a falsa noção de que ele é o autor e o executor da ação. Este ego-arrogantemente-ativo naturalmente começa a sentir anseios para ter sucesso e um apego ardente pelo resultado de suas ações."

Karl Renz usa a metáfora da roda-gigante. Nós nos sentamos na roda-gigante e pensamos que de fato somos os responsáveis por conduzi-la. Enquanto este movimento da roda ocorre sucessivas vezes o ego sofre amadurecimento. Em um certo ponto do ciclo, ele triunfantemente diz "Ei, aprendi a mover a roda-gigante! Olhem aqui! Eu estou conduzindo-a!" e, em um segundo de distração, ele larga do volante do seu banquinho e estupefato descobre que a roda-gigante funciona por si só. O Self (o Si) está diringindo-a. Você então percebe que não tem mais que fazer nenhum esforço.

Indo tão longe e estando há tanto tempo na roda-gigante, você começa a se perguntar questões fundamentais : Há sâmskaras (impressões mentais) que devem ser suplantadas. Há vásanas (tendências) que devem ser superadas. Há carma individual que deve ser sublimado. Mas... todas essas coisas vêm do ego e da mente e eu não sou nem um nem o outro.
De fato, ego, sâmskara, vásana e carma são instrumentos de aprendizado usado spara levar o estudante à percepção da verdade através de níveis progressivos de entendimento, cuidadosamente graduados.
Você chega à conclusão de que há uma Realidade. Que esta Realidade é imperecível. Ela transforma-se a si própria de maneira criativa. A natureza criativa da Realidade é o que causa a emergência de novas formas. Esta natureza criativa é que deve ser entendida como carma e, de modo algum, pertence a um indivíduo ou grupo. As formas manifestadas emergem e re-emergem incessantemente como resultado deste ímpeto criativo.

A emergência de uma forma é o desaparecimento de uma outra, como uma borboleta que emerge do casulo onde antes havia uma lagarta. Nós chamamos a primeira de "nascimento de uma borboleta" e a segunda "morte de uma lagarta", mas a Realidade imperescível continua a existir e através de todas estas transformações.

Dennis Waite diz "o problema do livre arbítrio ou não dissolve-se na compreensão de que não há ninguém fazendo uma escolha. Os pensamentos vêm e decisões aparentes são tomadas de acordo com o condicionamento particular do complexo corpo-mente. Todas estas coisas ocorrem mas não há ninguém fazendo coisa alguma. É tudo simplesmente movimento da forma sob uma lei determinística de causa e efeito. Um efeito é o pensamento (após o evento) do "Eu escolho fazer isto ou aquilo". E isso é apenas um pensamento surgindo na Consciência.
A Realidade não-dualística se manifesta em seres por todo o Universo e está continuamente mudando, evoluindo, morrendo, renascendo, somente no nível da aparência. A verdade é que tudo sempre é Consciência. Uma analogia pode ser feita como um metal, como ouro derretido, espargido em uma infinidade de formas pelo Universo. Eles são sempre o mesmo ouro. Esse movimento contínuo pertence a Brahman (o espírito supremo Universal). Por causa de nossa ignorância, acreditamos que nós estamos de alguma maneira encarregados da nossas formas locais e destinos mas tudo isso é ilusão. Reconhecer esta verdade é a verdadeira redenção.

Martius de Oliveira

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